Vista-se como uma mulher

Por Dani Amorim

“Embora eu seja a primeira mulher neste posto, não serei a última, porque cada garotinha que me vê hoje, vê que esse é um país de possibilidades”. Essa foi uma das marcantes frases que ouvimos de Kamala Harris em seu primeiro discurso como vice-presidente dos EUA. Não só ouvimos, como também vimos.

O terninho off white escolhido por Harris para marcar a história veio cheio de significados. Segundo El País, a cor tem uma longa história entre as políticas norte-americanas e o modelo usado por ela é assinado por Carolina Herrera, uma das marcas mais icônicas dos EUA, fundada em 1981 por uma mulher venezuelana, que hoje é uma empresa liderada por um diretor criativo de 33 anos nascido em Atlanta, branco e gay.

Em 2016, Kamala Harris ajudou a levantar a bandeira do movimento online que questionava uma observação feita Trump, após ser eleito presidente, afirmando que as mulheres que trabalhavam para ele deveriam “se vestir como mulheres”. Muito antes disso – e pelo menos desde 2004, conforme mostra o resultado de uma rápida pesquisa no Google – Harris se mostra adepta do blazer, uma peça originária do guarda-roupa masculino.

Não à toa, costumo dizer que essa peça tem o poder de agregar força ao visual, tanto de homens quanto de mulheres. O blazer foi criado por volta de 1837, como parte da vestimenta da nobreza e, por isso, ganhou status de item sofisticado e elegante. Depois se tornou uniforme oficial da marinha britânica até entrar para o ambiente de trabalho masculino e ser adaptado para a silhueta feminina em 1920, por Coco Chanel, também como uma representação das conquistas femininas.

Voltando à Kamala Harris, faço um paralelo do que vimos até aqui com a gestão da sua marca pessoal. Harris vem fortalecendo a sua marca pessoal há anos, transmitindo uma mensagem de força como consequência da sua atuação jurídica e política (pontos de vista à parte) e fazendo isso se refletir nos seus códigos de vestimenta. Mas ela não deveria ter aproveitado a ocasião histórica para se vestir de um jeito mais feminino e evidenciar presença feminina no poder? Em minha opinião, não. Por dois motivos: as características do feminino não se limitam à roupa e Kamala Harris se manteve fiel à sua essência. Em todo caso, ela imprimiu suavidade no tecido e no laço da blusa usada por baixo.

E se há quem diga que ela poderia se modernizar, outra marca registrada de Harris é a combinação de blazer com All Star. Afinal, vestir-se como mulher também não significa vestir-se de salto alto.